Abertura: A Chegada do Doutor
O filme começa com a chegada do médico Drauzio Varella (Luiz Carlos Vasconcelos) ao presÃdio do Carandiru, em São Paulo. Ele se voluntaria para trabalhar no combate à AIDS dentro do complexo penitenciário, um dos maiores da América Latina. O Doutor, como passa a ser chamado, inicia sua jornada conhecendo de perto a superlotação, as condições precárias e a convivência de milhares de presos em um espaço degradado. Sua presença é o fio condutor da narrativa, que revela diferentes histórias de vida dos detentos.
O Universo do Carandiru
A rotina da prisão é apresentada ao público. Guardas controlam a entrada e saÃda de visitantes, mas o poder real muitas vezes está nas mãos dos próprios detentos, que organizam regras internas para manter uma ordem mÃnima. O Doutor se aproxima de vários presos, ouvindo suas histórias enquanto realiza atendimentos médicos. Essa perspectiva humaniza homens que a sociedade costuma reduzir apenas a crimes, mostrando suas dores, perdas e esperanças.
As Histórias dos Presos
Entre os presos, o filme apresenta várias trajetórias marcantes:
- Ezequiel (Lázaro Ramos), que narra sua vida desde a infância até o envolvimento no crime, passando pela pobreza e pela falta de oportunidades.
- Majestade (Ailton Graça), respeitado no presÃdio, cujo apelido reflete sua liderança entre os detentos.
- Delei (Milhem Cortaz), que tenta sobreviver e manter certa dignidade em meio ao caos.
- Peixeira (Milton Gonçalves), com sua figura mais velha e experiente, trazendo um peso trágico à narrativa.
- Lady Di (Rodrigo Santoro), um dos personagens mais marcantes, preso travesti que se envolve em um casamento simbólico dentro do presÃdio, trazendo um raro momento de afeto e celebração em meio à brutalidade.
Essas histórias são contadas em paralelo, revelando como cada personagem chegou até ali e como lida com a realidade carcerária.
O Casamento no PresÃdio
Um dos momentos mais emblemáticos é o casamento de Lady Di (Rodrigo Santoro) com outro preso. A celebração acontece com música, dança e improviso, representando um instante de humanidade e união. Apesar da alegria, a cena também ressalta a contradição: mesmo dentro de uma prisão marcada pela violência, ainda existe espaço para amor e solidariedade.
O Retrato da Violência
Ao longo do filme, o público acompanha os conflitos entre facções, os abusos, os assassinatos dentro do presÃdio e as tensões crescentes entre detentos e autoridades. O Doutor serve como observador e testemunha, tentando manter sua missão médica enquanto percebe a dimensão da violência estrutural.
A Rebelião e o Massacre
O clÃmax do filme chega quando uma briga aparentemente banal entre dois presos se intensifica, culminando em um motim dentro do Carandiru. O clima de tensão cresce, e os guardas pedem reforço. A PolÃcia Militar cerca o presÃdio, e em vez de controlar a situação pacificamente, invade o complexo com extrema violência.
Segue-se o Massacre do Carandiru, episódio real ocorrido em 1992, no qual 111 presos foram mortos. O filme retrata a brutalidade da ação policial, mostrando os detentos encurralados, muitos desarmados, sendo executados dentro de suas celas. A cena é mostrada de forma impactante, sem heroÃsmo, apenas com o horror e o silêncio que segue após o banho de sangue.
Desfecho: O Silêncio Após a Tragédia
Após o massacre, o Doutor sai do presÃdio abalado pelo que testemunhou. Ele reflete sobre as vidas perdidas, sobre os homens que conheceu e sobre a violência de um sistema que, em vez de recuperar, destrói ainda mais. O filme encerra destacando a desumanização do sistema penitenciário e deixando ao espectador a sensação de impotência diante da tragédia, mas também com a lembrança das histórias pessoais que deram rosto e voz aos números.