A Última Palavra (2017)

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Abertura: O Controle Que Nunca Para
Conhecemos Harriet Lauler (Shirley MacLaine), uma empresária aposentada, durona, perfeccionista e acostumada a mandar e controlar tudo ao seu redor. Ela vive sozinha em uma casa elegante, com poucas relações pessoais, mas cheia de orgulho e autossuficiência. 

Desde os primeiros momentos, fica claro que Harriet teme ser mal lembrada: ela lê obituários de outras pessoas e percebe que muitos atribuem elogios exagerados ou mentiras brandas. Isso gera nela o desejo de garantir que sua própria história seja contada “do jeito certo”. 

Cansada de deixar seu legado ao acaso, Harriet toma uma decisão ousada: contratar alguém para escrever seu obituário antes mesmo de morrer. Assim, ela poderá aprovar e moldar como será lembrada. 

A Escolha da Jornalista e o Confronto com a Verdade
Harriet paga para que o jornal local elabore seu obituário, e insiste que Anne Sherman (Amanda Seyfried), uma jovem jornalista do jornal, seja a encarregada do trabalho. 

Anne, no entanto, se recusa a seguir o “roteiro” idealizado por Harriet de forma cega. Em vez disso, decide investigar a vida de Harriet a fundo, buscando depoimentos reais de pessoas que a conheceram. Ela escuta histórias que muitas vezes contradizem a versão brilhante que Harriet gostaria de deixar como herança. 

Isso provoca constantes atritos entre as duas. Harriet exige controle; Anne quer autenticidade. O conflito entre querer aparente perfeição e encarar a imperfeição humana será o núcleo da história. 

Os Depoimentos e a Solidão Revelada
Enquanto Anne investiga, descobre-se que Harriet é uma figura que muitos evitam. Quando ela tenta coletar depoimentos sobre beleza, bondade ou generosidade, Anne encontra resistência: pessoas não têm boas memórias, evitam contato ou expressam mágoas não resolvidas. 

Harriet percebe que sua própria arrogância e afastamento a deixaram com poucos laços pessoais. Ela começa a questionar se controlou demais em vez de amar e se expor. Esse reconhecimento interno inicia a transformação de sua visão de legado. 

Para reforçar esse processo, surge Brenda (AnnJewel Lee Dixon), uma garotinha rebelde e com vida difícil, que Harriet encontra quase por acaso em um abrigo juvenil. Harriet decide incluir Brenda em sua “missão de legado” — ela quer que seu obituário mostre que tocou a vida de alguém com menos oportunidades. 

Esse relacionamento com Brenda suaviza a imagem rígida de Harriet, mostrando que ela pode ser mentora e amiga, não apenas controladora.

A Reconciliação com o Passado
Harriet carrega um distanciamento com sua própria filha, Elizabeth (Anne Heche), com quem não fala há muitos anos. Quando Anne propõe uma reunião entre mãe e filha, o reencontro é tenso e incerto. 

Durante o almoço, Elizabeth percebe como a mãe sempre complicou o relacionamento com seu temperamento inflexível. Harriet, por sua vez, tenta provar que sempre quis o melhor, mas falhou em demonstrar afeição. A cena é cheia de constrangimentos, mas mostra que, por mais frio que alguém pareça, pode haver vontade de reconectar. 

Essa reconciliação parcial permite que Harriet cresça emocionalmente e aceite imperfeições — tanto as dela como as dos outros.

A Virada Criativa: Rádio e Música
No meio de sua jornada de redenção, Harriet decide expandir seu legado além de palavras fixas. Com a ajuda de Anne, ela entra no mundo da rádio local: Harriet consegue um espaço como DJ convidada, usando sua seleção de vinis e música para transmitir partes de sua personalidade e paixão. 

Isso se torna uma platéia viva para sua voz verdadeira, não a versão idealizada. A música, que sempre foi algo particular, passa a ser um canal de conexão com o mundo. Essa parte é considerada um dos pontos mais interessantes do filme. 

Anne percebe que Harriet tem mais a oferecer do que a imagem rígida que criou. Em paralelo, ela própria se abre mais, questionando suas limitações como jornalista segura demais no anonimato.

O Clímax: Legado e Verdade
O momento decisivo do filme ocorre quando Harriet – cansada de projetar uma versão idealizada – aceita que seu obituário deve refletir o real: erros, falhas, escolhas e o que realmente tocou vidas, mesmo fora dos holofotes. Anne ajuda a reorganizar o texto, acrescentando vozes reais que demonstram como Harriet impactou (para melhor ou pior) pessoas comuns.

Ela também fortalece laços com Brenda, mostra publicamente gestos de generosidade e arrisca expor vulnerabilidades, em vez de ocultá-las.

Quando o obituário final é publicado, não é perfeito nem fantasioso — é humano. Ele honra a mulher que foi, com suas luzes e sombras.

Desfecho: A Última Palavra, mas Novos Caminhos
No encerramento, Harriet não morre imediatamente após a publicação, mas vive para ver um pouco de reação: relacionamentos melhorados, respeito novo de conhecidos e um legado mais autêntico. Anne, por outro lado, encontra inspiração para buscar seu próprio caminho, mais corajoso e menos preso à fórmula.

O filme finaliza com Harriet ouvindo rádio — seu programa — e sorrindo com a conexão que nunca teve antes. A “última palavra” não é uma sentença melancólica, mas um convite à mudança: nunca é tarde para reescrever quem somos e como seremos lembrados.

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