Hulk (2003)

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A origem traumática
A narrativa começa décadas antes da ação principal, numa linha temporal que estabelece a raiz trágica de Bruce. Nos anos 60–70, David Banner é um geneticista do governo obcecado em “melhorar” o DNA humano. Ele realiza experimentos em si mesmo e passa adiante mutações ao filho recém-nascido, Bruce. Quando as autoridades descobrem as experiências perigosas, o superior de David — o coronel Thaddeus Ross — ordena o encerramento do projeto. Em uma explosão de fúria e loucura, David provoca uma explosão no reator de um laboratório (o “gammasphere”), sua esposa Edith é morta acidentalmente no confronto, e David é preso/internado — enquanto o pequeno Bruce é separado e adotado por outra família, perdendo as lembranças conscientes desse trauma. Essa origem familiar e o trauma infantil são o motor emocional de todo o filme. 

Bruce adulto: cientista, culpa e reencontros
Trinta anos depois, Bruce (agora usando o sobrenome Krenzler, criado por sua família adotiva) é um pesquisador respeitado no Berkeley Lab e tenta levar uma vida “normal”, embora carregue uma fratura emocional profunda. Ele trabalha com Betty Ross, filha do general Ross e sua antiga paixão — uma relação carregada de história e sentimentos não resolvidos. A pesquisa com “nanomeds” / células regenerativas atrai o interesse militar: o Major Glenn Talbot e empresários ligados ao complexo militar-industrial querem usar a tecnologia para criar soldados regenerativos. Enquanto isso, David Banner (o pai), já liberto do hospital em circunstâncias misteriosas, reaparece perto do laboratório, instalado à margem da vida de Bruce e observando-o a distância. A tensão cresce entre ética científica, ambições militares e as memórias reprimidas de Bruce. 

O acidente, as transformações e o Hulk
Quando manipulações com energia gama e uma série de provocações psicológicas (incluindo a exploração de memórias traumáticas) desencadeiam Bruce, ele se transforma no Hulk: uma gigantesca criatura verde que cresce em força conforme a ira aumenta. As transformações aqui são filmadas como eventos catárticos e traumáticos — não meros trajes: Ang Lee trata o Hulk como manifestação visceral de acúmulo emocional. O Hulk, depois de ataques a instalações e confrontos com o exército (ordenado por Ross), torna-se alvo de operações militares e de Talbot, que vê oportunidade de lucro/pesquisa. As tentativas de capturá-lo (isolamento em tanques, provocações deliberadas) só aprofundam o conflito e liberam mais memórias e emoções enterradas em Bruce. 

David Banner: do pai ao monstro Absorvente
O cerne trágico do filme é a relação entre Bruce e seu pai, David Banner — que, ao longo do enredo, revela ter evoluído suas próprias mutações: após submeter-se a “nanomeds” e à gama, David desenvolve a capacidade de mesclar/absorver propriedades do que toca (uma fusão do conceito do personagem Homem-Absorvente com outras ideias), e, em determinado momento, transforma-se numa entidade elétrica massiva (referência ao personagem Zzzax dos quadrinhos). David, cada vez mais megalomaníaco, quer “estabilizar” sua molécula instável com o poder do Hulk e chegar ao auge de potência — mesmo que isso signifique destruir o próprio filho. A confrontação final entre pai e filho é tanto física quanto simbólica: é a peça-chave do roteiro que converte a história numa tragédia familiar. 

O confronto final e a aparente catástrofe
No clímax, David, ao ser induzido a absorver uma grande carga elétrica (mordendo um cabo de alta tensão enquanto a instalação é energizada), transforma-se numa forma monstruosa de energia. Bruce se torna Hulk para enfrentá-lo. O embate escala — batalha nas ruas e depois numa cena subterrânea/na usina — e Ross, desesperado, ordena o uso de uma carga gama para encerrar o conflito. O resultado é ambíguo e dramático: o ataque é lançado, David/Bruce parecem ter sido neutralizados e muitos acreditam que o pior aconteceu. 

Epílogo: o Hulk que não desaparece
Um epílogo elíptico mostra que o fim não é absoluto: relatos de avistamentos do Hulk continuam, e, em especial, uma cena um ano depois revela que Bruce — agora vivendo em exílio na Amazônia — trabalha num acampamento médico/discreto. Quando rebeldes tentam saquear o local, ele adverte e, diante da ameaça, o Hulk ruge — sugerindo que a criatura e o homem ainda existem, em tensão latente entre conter o monstro e aceitar sua natureza. O filme fecha no tom de que a luta interior permanece e que o “mito” do Hulk não está encerrado.

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