Abertura: A Memória de Clara
O filme começa nos anos 1980, durante uma festa de aniversário de Clara (Sônia Braga), uma crÃtica de música que sobreviveu ao câncer de mama e carrega uma história de vida marcada pela força e pela resistência. Já nesse inÃcio, fica claro que Clara é uma mulher de personalidade forte, ligada à memória, à música e aos espaços que marcaram sua vida.
A narrativa salta para os dias atuais, em Recife, onde Clara, agora viúva e aposentada, vive sozinha no EdifÃcio Aquarius, um prédio antigo de frente para o mar em Boa Viagem. O edifÃcio, apesar de ter perdido moradores ao longo dos anos, é para Clara um espaço de lembranças e afeto.
A Pressão da Construtora
O cotidiano de Clara começa a ser abalado pela insistência da construtora Bonfim Engenharia, que deseja comprar todos os apartamentos do prédio para demolir o Aquarius e erguer um novo empreendimento. O jovem executivo Diego (Humberto Carrão), herdeiro da construtora, passa a pressionar Clara de forma ostensiva para que ela venda seu apartamento, já que ela é a última moradora do edifÃcio.
Apesar das propostas financeiras tentadoras e da pressão velada, Clara se mantém firme: o apartamento é mais do que um imóvel, é parte de sua história, um lugar que guarda memórias do marido, da juventude, dos filhos e de sua trajetória pessoal.
A Vida Cotidiana e os Conflitos Pessoais
O filme explora a rotina de Clara, mostrando seus encontros com amigos, seu vÃnculo com a música e a literatura, suas idas à praia e as visitas frequentes da empregada Ladjane (Zoraide Coleto). Também surgem seus filhos adultos, que tentam convencê-la a vender o apartamento, acreditando que ela está se apegando demais ao passado.
Clara, no entanto, não cede. Ela enfrenta, inclusive, os olhares de julgamento de alguns familiares e conhecidos, que consideram sua resistência uma espécie de teimosia ou até mesmo loucura.
O Assédio da Construtora
Diante da recusa de Clara, a Bonfim Engenharia intensifica o assédio. Vários apartamentos vazios do prédio são usados para festas barulhentas e até mesmo para atividades ilegais, numa clara tentativa de tornar a vida de Clara insuportável.
A personagem enfrenta tudo com coragem, mesmo quando a pressão assume contornos de ameaça. Em uma das cenas marcantes, Clara confronta Diego diretamente, deixando claro que não tem medo dele nem da construtora.
A Resistência de Clara
Mais do que a luta contra a empresa, Clara passa a simbolizar resistência contra o apagamento da memória. O apartamento não é apenas um bem material, mas um espaço onde cada móvel, cada disco e cada objeto conta uma história.
Sua luta solitária representa a defesa de uma identidade coletiva que está constantemente sob ameaça da especulação imobiliária e da destruição da memória urbana.
O Confronto Final
Na reta final do filme, Clara decide agir de maneira mais incisiva contra a construtora. Após descobrir que o prédio foi usado para práticas imorais e até mesmo violentas como forma de intimidação, ela visita o escritório da Bonfim Engenharia.
Diante de Diego, Clara entrega provas comprometedoras sobre as práticas da empresa, em um gesto firme que inverte a relação de poder. Não mais acuada, ela assume o papel de quem desafia diretamente os responsáveis pela degradação do Aquarius.
O Desfecho: A Vitória Moral
O filme termina de forma aberta, mas simbólica. Clara, que em todo momento manteve sua dignidade, sua independência e sua memória, se coloca como a verdadeira vencedora, mesmo diante da pressão de uma estrutura econômica e social muito maior do que ela.
O desfecho mostra que sua luta não é apenas por um apartamento, mas por um modo de vida, por sua história e pela preservação de algo que não pode ser comprado: a memória.