Abertura: O Encontro e a Memória
O filme começa com Gonzaguinha (Chay Suede/Júlio Andrade) já adulto, em uma fase de crise pessoal e artística, prestes a reencontrar o pai, Luiz Gonzaga (Nivaldo Expedito Gomes/Adélio Lima/Chambinho do Acordeon), depois de anos de distanciamento. Esse reencontro serve como fio condutor para a narrativa: ao longo da conversa entre pai e filho, memórias são resgatadas e a trajetória de ambos é mostrada em flashbacks. É nesse ponto que se revela o tema central do filme: as dificuldades da relação entre gerações, o peso da fama e as feridas de uma relação marcada por ausências.
A Juventude de Luiz Gonzaga
Voltamos ao início do século XX, no sertão de Exu, Pernambuco, onde Luiz Gonzaga (Land Vieira, na fase jovem) cresce em uma família humilde, ajudando o pai Januário e a mãe Santana. Ainda menino, mostra aptidão para a sanfona, herança do pai, e começa a tocar em festas locais. Porém, os sonhos de Luiz vão além da vida no sertão: ele deseja viajar pelo mundo e mostrar sua música a outras pessoas.
A Carreira Militar e a Descoberta da Música
Luiz se alista no Exército e, em meio ao serviço militar, leva consigo a sanfona, tocando em eventos e chamando a atenção pela sua habilidade. Depois de deixar a vida militar, ele parte para o Rio de Janeiro, em busca de sucesso como músico. No começo, toca músicas estrangeiras em boates, mas logo percebe que seu verdadeiro diferencial é levar o som do sertão nordestino para o restante do Brasil.
A Ascensão do Rei do Baião
Com muito esforço, Luiz Gonzaga conquista espaço no cenário musical. Sucessos como “Asa Branca” o tornam referência nacional, e ele passa a ser chamado de Rei do Baião. A cultura nordestina ganha visibilidade em suas mãos, com roupas típicas, chapéu de couro e letras que falam da seca, da saudade e da vida no sertão. O filme mostra esse momento de glória, mas também evidencia a solidão e as dificuldades de Luiz em conciliar a vida pessoal com a fama crescente.
O Romance e o Nascimento de Gonzaguinha
Luiz se apaixona por Odaleia Guedes (Nanda Costa), uma cantora carioca de vida boêmia. Dessa relação nasce Gonzaguinha (Chay Suede). Porém, o relacionamento é conturbado: Luiz não consegue se adaptar à vida no Rio de Janeiro e às responsabilidades familiares, e o casal enfrenta muitas brigas. Com a morte precoce de Odaleia, Gonzaguinha é criado por amigos da mãe, distante da figura paterna.
A Infância e o Distanciamento
O jovem Gonzaguinha cresce sentindo a ausência do pai. Sem a presença de Luiz, ele desenvolve ressentimento e uma visão crítica sobre a figura paterna, vendo-o como alguém que preferiu a carreira à família. O filme mostra como esse vazio marca profundamente a personalidade do menino, que encontra na música uma forma de se expressar e, ao mesmo tempo, de enfrentar a sombra do pai famoso.
A Carreira de Gonzaguinha
Já adulto, Gonzaguinha (Júlio Andrade) se afirma como compositor e cantor da chamada MPB de protesto, marcada por letras engajadas e contestadoras durante a ditadura militar. Diferente do pai, ele adota um estilo mais urbano, intelectual e politizado. Apesar do sucesso, Gonzaguinha enfrenta censura, perseguições políticas e também críticas vindas de quem esperava que seguisse o mesmo caminho musical de Luiz Gonzaga.
O Conflito de Pai e Filho
À medida que Gonzaguinha cresce na carreira, o distanciamento entre ele e Luiz Gonzaga aumenta. O filho sente que nunca teve o carinho e o reconhecimento do pai, enquanto Luiz se ressente por não ser compreendido e por ver sua música nordestina ser considerada “menor” em certos círculos. O filme mostra as discussões e o orgulho ferido de ambos, revelando que a fama e a música, embora os unam, também criaram barreiras emocionais quase intransponíveis.
O Reencontro
No presente, já consagrado, Gonzaguinha decide rever o pai. Luiz Gonzaga, por sua vez, envelhecido e ainda em atividade nos palcos, também deseja reaproximar-se do filho. O reencontro é marcado por mágoas, mas também por diálogos emocionantes, em que ambos expõem suas feridas e sentimentos reprimidos. É nesse momento que Gonzaguinha começa a enxergar o pai não apenas como um ícone distante, mas como um homem cheio de falhas, porém verdadeiro.
O Reconhecimento e a Herança
O filme caminha para um desfecho emocionante: Gonzaguinha passa a valorizar o legado de Luiz Gonzaga, reconhecendo a importância do pai para a cultura brasileira. Por sua vez, Luiz enxerga no filho a continuidade de sua luta pela música, mesmo que em caminhos diferentes. O afeto, ainda que tardio, renasce. O espectador entende que, apesar das dores e dos desencontros, a música sempre foi o elo invisível entre pai e filho.
Encerramento: Dois Ícones da Música Brasileira
O filme encerra com imagens que remetem ao legado de ambos: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, símbolo da cultura nordestina; e Gonzaguinha, o compositor engajado que deu voz a uma geração. Dois artistas diferentes em estilo e visão de mundo, mas unidos pelo sangue e pela música. O reencontro entre pai e filho, mesmo permeado por conflitos, se transforma em reconciliação simbólica, celebrando a herança musical que ambos deixaram ao Brasil.